Tiago Morais Morgado - Sohre o Edipo, Anti-Edipo e Liberdades Colectivas


O Édipo, no contexto freudiano, refere-se ao complexo de Édipo, uma teoria central na psicanálise desenvolvida por Sigmund Freud no início do século XX. Esse conceito descreve o processo pelo qual uma criança, tipicamente entre 3 e 6 anos, desenvolve desejos inconscientes pelo genitor do sexo oposto e rivalidade com o do mesmo sexo, culminando em uma resolução que forma a base da identidade de gênero, da moralidade e da estrutura psíquica. Freud via isso como um mecanismo universal de repressão dos impulsos primitivos, essencial para a entrada na sociedade civilizada, mas que impõe limites à liberdade individual ao internalizar normas patriarcais e hierárquicas. No século XXI, o complexo de Édipo é criticado por reforçar estruturas binárias de gênero e família nuclear, o que pode entravar a emancipação civil (como direitos LGBTQ+ e igualdade de gênero) e social ( combatendo opressões patriarcais em contextos como o #MeToo ou movimentos feministas), além de limitar a emancipação psíquica ao promover neuroses coletivas em uma era de ansiedade generalizada e saúde mental precária sob o capitalismo tardio.

Já o Anti-Édipo, obra seminal de Gilles Deleuze e Félix Guattari publicada em 1972 (parte da série "Capitalismo e Esquizofrenia"), é uma crítica radical ao complexo de Édipo e à psicanálise tradicional. Os autores argumentam que o Édipo não é um fenômeno natural ou universal, mas uma construção repressiva do capitalismo, que canaliza o desejo humano (visto como uma força produtiva e revolucionária) para estruturas familiares triangulares (pai-mãe-filho), servindo para manter o controle social e econômico. Em vez de repressão, eles propõem o "desejo desiring-production" como uma máquina abstrata que produz realidade, e defendem a "esquizoanálise" como ferramenta de liberação, rompendo com o "paralogismo da repressão psíquica" que confunde repressão social com psíquica. No contexto da liberdade civil, o Anti-Édipo inspira visões anarquistas e libertárias que veem o Estado e o capital como extensões do Édipo, limitando liberdades individuais por meio de vigilância e normatividade (pense em debates sobre privacidade digital no século XXI, como o impacto da NSA ou algoritmos de redes sociais).

Para a emancipação social, Deleuze e Guattari conectam o Anti-Édipo à crítica do capitalismo, onde o Édipo familializa o desejo para perpetuar a exploração: o trabalhador é "oedipalizado" para aceitar hierarquias. No século XXI, isso ressoa em movimentos como o Occupy Wall Street, Black Lives Matter ou ecossocialismo, que buscam desmantelar estruturas opressivas de raça, classe e ambiente, promovendo "micropolíticas" de resistência contra o "ultra-liberalismo" que erige muros invisíveis de controle. A emancipação psíquica, por sua vez, envolve liberar o desejo de fluxos esquizofrênicos, opostos à paranoia oedipal, o que no contexto atual se aplica a críticas à medicalização excessiva da saúde mental (como o uso de antidepressivos em massa) e ao antipsychiatry movement, revivido em discussões sobre neurodiversidade e autismo como formas de resistência ao normativo. Em resumo, enquanto o Édipo representa a internalização da repressão para a "civilização", o Anti-Édipo oferece ferramentas para uma emancipação multifacetada no século XXI, influenciando teorias queer, pós-colonialismo e críticas ao neoliberalismo, onde a liberdade civil envolve romper com vigilância estatal, a social com coletivos rizomáticos, e a psíquica com a celebração do desejo produtivo contra a alienação.

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